História dos Rituais Fúnebres para Animais
O ritual de enterro de animais tem sido praticado em todo o mundo ao longo da história. Em muitas sociedades era, e ainda é, uma forma de homenagear os animais que se dedicaram às suas famílias humanas. Estes funerais são expressões da nossa afinidade emocional com seres não humanos e de um sentimento de pertença ao mundo natural. Os rituais funerários para animais celebram a mais duradoura das crenças humanas – a de que partilhamos uma “próxima vida” com outras criaturas – tal como acontece com esta.
De todas as sociedades ancestrais que celebravam funerais para animais, o Egipto é a mais conhecida, graças à grande quantidade de cães, gatos, macacos e aves mumificadas que foram descobertas pelos arqueólogos. Já em 1000 a.C., grandes áreas de terreno ao longo do Nilo eram expressamente designadas para o enterro de animais, apesar de ser também completamente aceitável que estes fossem colocados nos túmulos dos seus donos. Nessa altura, tal como agora, os donos mais ricos não se poupavam a despesas nos funerais dos seus animais. Quando um cão real morreu em 2180a.C., o faraó em luto ordenou que fosse fabricado um sarcófago e que “o melhor tecido, incenso e óleos aromáticos” fossem usados no processo de mumificação. Foi decretado que a sepultura seria num túmulo subterrâneo especialmente construído.
Alexandre o Grande (356 a.C. – 323 a.C.) conta-se entre um dos mais famosos apreciadores de cães da história. A sua grande mastim, de nome Peritas, foi enterrada com uma procissão formal sob um grande monumento de pedra erigido em sua honra. Aos residentes vizinhos foi ordenado que celebrassem a data da sua morte em festividades anuais e ainda existe na proximidade uma cidade com o seu nome.
Após séculos de associação com os deuses pagãos do Egipto, Roma e Grécia, muitos animais foram sujeitos a perseguições na era Cristã a partir 700 d.C. Cães e gatos da era medieval eram muitas vezes acusados de serem cúmplices de bruxas ou, ainda pior, a incarnação de Satanás. Havia pouca tolerância para pessoas que cuidassem ou falassem com animais e, menos ainda para a noção de enterrar animais com a mesma pompa e cerimónia dedicada às pessoas. Mesmo assim, alguns corajosos defenderam que os animais deveriam ter também direito a honras post-mortem. Mais tarde, a rainha Vitória de Inglaterra (1837 -1901) lutou pelo estabelecimento de uma nova ética mais humana na sociedade. No decurso da sua longa vida, vastos terrenos em redor do Castelo de Windsor tornaram-se a morada final de cavalos, pássaros e muitos cães, com estátuas de bronze em tamanho real a marcar os túmulos.
Na segunda metade do século XIX, donos de cães que habitavam em zonas urbanas densamente povoadas e sem terrenos próprios, viram-se confrontados com duas opções pouco apelativas quando um animal morria. Deita-lo fora com o lixo ou colocar o corpo num saco com pesos e atira-lo para um rio próximo (só em 1899, as equipas sanitárias retiraram três mil animais do Sena, em Paris). Alguns chegaram ao extremo de entrar em cemitérios humanos para enterrar animais em lotes reservados para si próprios.
Assim não é de estranhar que a abertura dos primeiros cemitérios públicos para animais tenha sido bem recebida por milhares de amigos dos animais, no início do século XX.
Os últimos rituais para os animais de companhia Vitorianos eram tão formais quanto os equivalentes a humanos e incluíam velórios, caixões forrados a cetim, jóias e incontáveis ramos e coroas de flores.
Alguns animais de companhia eram fotografados em almofadas de renda, pousando como se estivessem em sono tranquilo (era costume fotografar do mesmo modo crianças que tinham falecido). Muitos donos guardavam madeixas dos seus animais em amuletos de ouro ou em anéis especialmente desejados para o efeito.
Versículos da Bíblia, excertos de peças de Shakespeare, poesia por Lord Byron ou simples testemunhos da autoria dos próprios donos eram epitáfios populares. “Nenhum deles é esquecido pelo Senhor”, declaram solenemente muitas lápides em Hyde Park. “Afogado no velho Lago de Windsor”, “Envenenado”, “Atropelado”, “Saudade da sua Dona” eram alguns dos comentários emotivos sobre finais trágicos. Muitas das inscrições são comentários intemporais sobre a constância dos animais comparativamente à das pessoas.
No início do séc. XXI existiam, só nos Estados Unidos, mais de 500 cemitérios para animais. Os tradicionais caixões de madeira e simples lápides de pedra são ainda populares. O facto de tantas pessoas escolherem comemorar a vida dos seus animais de companhia é uma boa notícia, pois indica a renovação de um sentimento de pertença, de familiaridade com o mundo natural, em grande parte inspirado pelos animais de companhia que nos ajudam e confortam nesta sociedade cada vez mais impessoal e tecnológica.
“Estes indícios representam o crescimento e o alargamento do espírito humanitário, em tempos que põem à prova as almas dos Homens” referiu um porta voz da SPCA (Sociedade para a Prevenção da Crueldade contra os Animais) em 1900, após ser detetado o interesse crescente por funerais para animais de companhia. Esta evolução na mentalidade das pessoas denota a mudança que se está a dar no nosso próprio conceito de vida, em que “somos parte de um mundo alargado de animais, não acima, nem separados dele”.